29/08/2008
07/08/2008
catálogo do 14º salão da Bahia ( 2007 )
foto retirada do catálogo do 14º Salão da Bahia
o catálogo chegou aqui em casa ontem
eis a entrevista que a Teté Martinho fez comigo lá em Salvador...
Você começou a criar histórias em quadrinhos muito cedo, e conta que parou de desenhá-las ao se aproximar do universo das artes visuais. Como você compara esses dois mundos?
As histórias em quadrinhos são meu exercício de liberdade; ali vou para tudo quanto é lado. Gosto muito de Moebius porque ele não faz um roteiro e depois desenha as histórias. Ele faz um quadrinho e aquele quadrinho vai definir o próximo e assim por diante, até contar a história inteira. Eu faço histórias desse jeito. É uma grande aventura. No primeiro desenho sai um sujeito segurando uma lata, aí no segundo você vai descobrir o que era aquela lata, e assim você permite que a história se conte ela mesma. O trabalho de artes plásticas é como se fosse uma página de uma história em quadrinhos. É você dar uma importância para aquela página, trabalhar aquele ponto, colocá-lo em evidência, jogar luz em cima, pôr no tridimensional. E aí você começa a usar os objetos do cotidiano, os elementos; para mim, a questão plástica é a matéria que nos cerca.
Como os quadrinhos e o trabalho conceitual se reecontram na sua produção recente?
Comecei a achar legal a história em quadrinhos não ser tão direta, tão narrativa, tão começo, meio e fim. E as artes plásticas não precisavam ser só conceito, mas algo com diversas camadas de leitura, que também pode criar uma narrativa, em relação com a história da arte. Colocar a narrativa das histórias em quadrinhos nas artes plásticas e colocar nos quadrinhos a possibilidade de uma leitura mais aberta. Dá gosto criar para um público mais amplo um trabalho mais conceitual, também. É um intercâmbio e no meio desse intercâmbio nasce o trabalho.
Em seu 3-D Delivery (2006), uma sequência de vídeos simula uma sequência de quadrinhos. Em Matiz Vertical, de novo é como se esses dois mundos se olhassem, não apenas no aspecto sequencial, na trilha que comenta a narrativa e na coexistência da ação e do exercício formal, mas também na figura de um protagonista meio herói, meio cômico. Qual é o seu papel nos seus trabalhos?
Isso vem do tipo de quadrinhos que eu gosto, e que é muito autobiográfico. No trabalho, estou lá sentado tendo sensações e estou trabalhando com estas sensações. Tem gente que já leu o trabalho como uma crítica direta ao concretismo, mas o concretismo é um fetiche meu, porque acho gostoso aquele equilibrio. Eu entro dentro de um trabalho concretista para explorá-lo, lanço um olhar de aventureiro sobre um trabalho conceitual. É assim que me sinto vendo as artes plásticas também. Estudo as artes plásticas como um aventureiro; me permito tomar sustos, ficar empolgado. Tento manter a mente limpa. Eu chego explorador, apalpando.
Quais são as grandes questões que aproximam suas pinturas, desenhos, instalações e performances?
Meu trabalho plástico, de uma forma geral, tem uma coisa sequencial: eu crio uma questão, faço um trabalho, ele tem várias outras questões, vem o segundo para dialogar com este primeiro, e acho que assim inevitavelmente. Estes trabalhos verdes e vermelhos vêm de uma pesquisa que foi dar na cor complementar. Comecei com corpo parado, morto, só o corpo, oco, só a caixa, ângulos retos, muito frio. Aí isso me incomodou profundamente e pensei “O que é alma desse corpo?” Cheguei na cor como resposta. E por que a cor? Porque a cor é o movimento, ela vibra. E daí? O que ela precisa então? Precisa de seu complementar. Uma alma precisa de outra alma. Então cheguei na cor complementar de Painel de Comando (2007) e em Matiz Vertical. Uma coisa que me inquieta nos trabalhos, também, é a velha questão da mobilidade. Fazer um trabalho bidimensional, matéria, que não fique aquela coisa inerte, parada. Tem a busca do movimento sempre. Fiz uma série de tênis All Star verdes e vermelhos que andavam, ligados a carrinhos bate-bate. Era uma performance: eu chegava descalço, com várias caixas de sapato, ligava eles e, ao invés de pôr no pé, colocava no chão. Eles iam embora, e depois ficava cheio de tênis andando pela exposição.
04/08/2008
AR LIVRE - paisagens audiovisuais
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